FEDERASUL expressa preocupação com o descaso enfrentado pela malha ferroviária do Rio Grande do Sul

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Tá na Mesa desta semana teve como pauta central o resgate das ferrovias gaúchas

O encontro contou com a participação do vice-governador Gabriel Souza e do presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias, deputado estadual Felipe Camozzato, que discutiram os desafios e perspectivas para o futuro desse modal no Sul do Brasil.

 

 

 

 

 

 

O tema é motivo de grande preocupação para a FEDERASUL, que cobra uma atuação mais responsável da concessionária Rumo Malha Sul. O presidente da entidade, Rodrigo Sousa Costa, foi enfático: “É inaceitável o desrespeito com que a concessionária tem tratado o Estado. Há mais de 25 anos, a concessão ferroviária deixa de cumprir seu papel de serviço público.”

Costa ressaltou que, mesmo antes da tragédia climática, a ferrovia já se encontrava em estado crítico — cenário que se agravou ainda mais nos últimos meses.

“Não podemos mais conviver com uma concessão mal-sucedida. Após todo o esforço de reconstrução pós-tragédia, este é o momento de acelerar todas as iniciativas possíveis. Não há espaço para prorrogar um contrato com uma empresa que sistematicamente falha em nos atender.”

Antes do Tá na Mesa, o presidente Rodrigo Sousa Costa recebeu na reunião de diretoria da FEDERASUL lideranças do Estado de Santa Catarina para acompanhar o andamento do planejamento ferroviário do estado vizinho.

O vice-governador Gabriel Souza também classificou como “desrespeitoso” o tratamento da Rumo em relação ao Rio Grande do Sul: “A empresa demonstra interesse apenas no Paraná. Seremos contrários à prorrogação desse contrato”, afirmou.

Diagnóstico: perda de competitividade e abandono da infraestrutura

Durante sua fala, Gabriel Souza apresentou um diagnóstico sobre a atual situação das ferrovias gaúchas. Ele lembrou que o contrato de concessão, firmado em 1997, termina em 2027 — e que agora é o momento de tomar decisões estratégicas.

Entre os dados destacados:

  • Queda de quase 50% na movimentação de cargas pelas ferrovias do RS nos últimos 18 anos;
  • Ausência de transporte ferroviário de contêineres e produtos siderúrgicos, que em 2013 representavam 12% da carga transportada;
  • Apenas 2% dos fertilizantes usados no Estado são transportados por ferrovias;
  • A velocidade média dos trens caiu pela metade e hoje é de apenas 12 km/h, a 4ª mais baixa do Brasil.

Souza também contestou a justificativa da concessionária sobre a suposta sazonalidade da demanda de grãos, argumentando que há fluxos relativamente constantes. Além disso, destacou que a capacidade rodoviária de recebimento no Porto de Rio Grande já supera a da ferrovia.

Propostas do governo para reverter o cenário

Além do estudo técnico, solicitado pelo governo do estado para a Portos RS, que será encaminhado para o governo federal, o governo gaúcho criou cenários de possibilidades de modelagens para contribuir com o debate no grupo de trabalho criado pelo Ministério dos Transportes.

Entre as propostas está o encurtamento de trechos ferroviários, como a construção de uma variante entre Santa Maria e São Gabriel, que reduziria o percurso em 112 km. Essa mudança faria o custo do frete cair de R$ 172,04 para R$ 134,35 no trecho rodoviário;

Sobre a Ferrovia do Trigo (Trem dos Vales) — trecho de 46 km entre Guaporé, Dois Lajeados, Vespasiano Corrêa e Muçum, com 20 km danificados pelas chuvas — o Estado propõe a devolução do trecho reparado pela concessionária à União.

Custo logístico alto impede o desenvolvimento

O deputado Felipe Camozzato destacou que o Rio Grande do Sul está estrategicamente posicionado, mas enfrenta graves entraves logísticos.

“Estamos sem conexão com o restante do país. Isolados desde antes das enchentes.”

O presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias considerou que enquanto a média de outros países gira em torno de 9% do PIB, no Brasil essa cifra é de 12%. No RS, antes da enchente, os custos logísticos já alcançaram 21,5% do PIB, chegando a 28% após a tragédia climática.

Segundo Camozzato, reduzir o custo logístico de 21,5% para 18% do PIB geraria um ganho de R$ 24,7 bilhões por ano para a economia gaúcha. “Investir no Rio Grande do Sul pode trazer um retorno significativo para o Brasil como um todo”, afirmou.

Ele também reforçou que o Estado precisa construir consensos mínimos e elaborar um plano estratégico de logística claro, eficiente e conectado ao restante do país e ao mercado internacional.

Bloco único

Antes do Tá na Mesa, o presidente Rodrigo Sousa Costa recebeu na reunião de diretoria da FEDERASUL lideranças de Santa Catarina para acompanhar o andamento do planejamento ferroviário do estado vizinho. O presidente concluiu que somente a união de lideranças produtivas dos estados do sul, através de uma visão compartilhada, poderá indicar e definir uma linha de ação direcionada para a busca de soluções no enfrentamento dos problemas de logística que são comuns aos estados. “Precisamos nos mover como um bloco único”.

Costa argumentou que considerando o momento de reconstrução do Estado após a tragédia climática, é importante observar que o que for feito nos próximos dois anos vai definir as tendências dos próximos 30 anos.  “Temos um grande desafio pela frente, pensar em ferrovias não significa pensar somente a redução do custo dos transportes, amplia a viabilidade de inserção de nossos produtos no mercado e representa uma importante redução no número de acidentes, citou como exemplo.

Participaram da reunião, o secretário adjunto de Portos, Aeroportos e Ferrovia de Santa Catarina, Ivan Amaral, o diretor de Ferrovias e Agronegócios da FACISC – Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina, o presidente da Comissão do Milho no Ministério da Agricultura, Enori Barbieri, o representante da Associação Brasileira de Proteína Animal, Arene Trevisan,  os representantes da TPF Engenharia André Assumpção e Tiago Dantas e o  procurador do Ministério Público Federal Osmar Veronesi.

O secretário adjunto relatou que o estado de SC apresentou alguns projetos em execução ou em fase de contratação em trechos internos no Estado. Disse que defende o livre comércio e que acredita que o modal ferroviário ´trará maior competitividade aos produtos.