O que esperar de um Conselheiro de Administração?

Há alguns anos tenho investido meu tempo em entender o verdadeiro papel de um conselheiro de Administração. Rótulos e estereótipos não faltam, mas parece que há uma dificuldade em entender que exatamente fugir do papel formatado em manuais podem ser a mola propulsora de uma empresa.  Não falo em rasgar manuais, mas em ousar fazer mais do que está escrito neles. Além de alinhamento aos princípios e valores da empresa, é importante que tenham capacidade de articulação e experiência de mercado. Um pensamento e direcionamento estratégico dos negócios, em conformidade com os principais interesses da empresa como um todo, protegendo seu patrimônio e aumentando o retorno sobre seus investimentos.  Mas um Conselho alinhado e afinado com um novo mundo, precisa mais. Bem mais.  Precisa estar ciente que as relações interpessoais e conectadas cada vez mais à tecnologia exigem uma participação transversal em todas as áreas. Sempre com segurança, boa técnica e competência, mas norteando e cobrando ações que de fato conduzam a empresa a uma modalidade cruzeiro, mas turbinado. E é possível? Com certeza que sim. Vejo no mercado Conselhos formados apenas por perfis de auditores, que simplesmente conferem balanços e atas, fugindo do grande pulo do gato de um Conselho de Administração. Viram carimbadores de atas. Ou pior, muitas vezes fazendo o papel que deveria ser de uma consultoria ou do próprio time da organização. O papel do Conselheiro de Administração é outro. Direcionar e validar as transformações necessárias que as empresas estão passando, evitando retrabalhos e principalmente apontando os riscos de projetos suicidas. E projetos que podem ser, desde tecnológicos como de novas contratações, adequações legais e fusões e aquisições. Muitas vezes a ousadia na escolha dos membros é confundida com insegurança jurídica. Por isso o “blend” no perfil dos conselheiros deve ser na medida certa para que a segurança esteja presente, mas com a inovação transpassando cada uma das diretrizes. Pois sem inovação a empresa está fadada a quebrar, isto é fato.

Letícia Batistela
Vice-presidente Jurídica e Coordenadora da Divisão Jurídica da Federasul
Sócia da LB Consultoria

PUBLICADO EM: 14 de agosto de 2019