Abertura para o mundo.

Finalizado o ano de 2022, há que se comemorar as vitórias alcançadas. No âmbito do mercado internacional, o superávit da balança comercial (exportações menos importações) foi de USD 62,31 bilhões. A corrente de comércio exterior, ou seja, a soma de exportações e importações totalizou USD 607,704 bilhões, 21,5% acima do ano anterior.

Tanto o superávit quanto a corrente de comércio exterior são os maiores números desde que os dados começaram a ser publicados em 1989. Aprofundando a análise destes números, a alta no preço das commodities explica a maior parte deste resultado espetacular, seguindo ainda os efeitos colaterais da pandemia e também da guerra no leste europeu. No entanto, houve, também, aumento de volume comercializado.

Ainda em relação aos efeitos da COVID-19, foi possível perceber “na pele” o quão globalizado está o mundo fisicamente. Se vários setores foram obrigados a fechar suas portas durante o auge da pandemia, alguns, como o setor portuário por exemplo, mantiveram suas atividades para propiciar a entrada e saída de bens e mercadorias essenciais, como alimentos, e também para o próprio combate à pandemia. No entanto, nem mesmo o setor portuário e a logística internacional como um todo passaram ilesos por este momento histórico. Por todo o mundo, os “lockdowns” e os surtos de infecção criaram gargalos logísticos gigantescos, atrasando navios, aviões, caminhões e trens. O resultado, além do atraso nas entregas, foi um aumento de custos na logística internacional como nunca antes na história mundial. Uma parcela disso foi sentida em nossos bolsos ao comprar produtos, essenciais ou não, e que foram verificados através dos indicadores inflacionários em disparada pelo mundo todo. Passados os efeitos mais fortes da pandemia, pelo menos na logística internacional, vemos uma normalização dos fluxos de transporte, inclusive considerando a recessão global que já é sentida também aqui no Brasil e quereduz o comércio como um todo.

Neste 28 de janeiro comemoramos o dia do Comércio Exterior e o dia do trabalhador portuário. A coincidência das comemorações é justificável já que a maior parcela do comércio internacional acontece por águas e os portos marítimos são atores fundamentais para a troca internacional. Neste mesmo dia, mas em 1808, o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas promulgado pelo Príncipe-regente de Portugal Dom João de Bragança foi o marco inicial da entrada do Brasil no comércio internacional. De lá pra cá, crescemos, evoluímos e internacionalizamos algumas de nossas atividades. No entanto, ainda somos um dos países mais fechados do mundo no que se refere ao comércio internacional e representamos algo ao redor de apenas 1,5% a 2% destas trocas. Ainda é muito pouco!

Não se sabe ao certo a origem do comércio exterior, mas há indícios de que já havia comércio entre chineses e vizinhos asiático ao redor de 8.000 a.C, passando pelos egípcios e o Rio Nilo, os Fenícios e sua cultura comercial marítima muito forte e extensa, chegando até os dias de hoje. Atualmente estamos presenciando a construção da nova Rota da Seda pela China, denominada de “One Road One Belt”. Se a “velha” Rota da Seda é tida como a maior rede comercial da antiguidade e idade média, a sua “irmã mais nova” demonstra potencial ainda mais avassalador de conectar países e continentes como nunca antes na história mundial com investimentos em rodovias, ferrovias e portos. Se as grandes navegações buscavam um caminho alternativo comercial para a Rota da Seda original, e como sabemos, o Brasil é um dos resultados desse fato histórico, resta saber como podemos (ou se queremos) aproveitar essa nova fase do comércio internacional pós-pandemia. Precisamos decidir se manteremos nosso país como um dos mais fechados ao comércio internacional ou se realmente implementaremos uma política de abertura internacional que facilite e amplie não só a nossa pauta exportadora mas também a importação de bens e serviços mais competitivos que melhorem a qualidade de vida do povo brasileiro. Se por um lado, as grandes navegações descobriram o Brasil, precisamos, agora, descobrir o mundo!

Rodrigo Velho
Diretor de Comércio Exterior da Federasul

PUBLICADO EM: 30 de janeiro de 2023